“Investir em infraestrutura gera um círculo tão virtuoso que é difícil compreender por que ficamos tão para trás nas últimas décadas”

Por Diogo Mac Cord de Faria, coordenador do projeto infra2038

 

Oito trilhões e setecentos bilhões de reais. Esta é a cifra que, de acordo com relatório inédito do projeto infra2038, o Brasil precisará investir em projetos de infraestrutura nos próximos 20 anos se quiser fazer parte do jogo mundial.

Para se ter ideia do tamanho do desafio, encerramos 2017 investindo algo como 1,4% do PIB, ou R$ 87 bilhões – menos do que os R$ 91 bilhões que seriam necessários para cobrir a depreciação dos (já insuficientes) ativos que temos em operação.

O Boletim Focus do Banco Central indica que, em 2018, o país crescerá algo como 2,7%. Parte deste crescimento pode ser explicado pela utilização de capacidade industrial ociosa.

Isto quer dizer que, por exemplo, uma fábrica de automóveis que já existe, já possui maquinário instalado e que, por conta da crise, está subutilizada, pode apenas contratar mais empregados e produzir mais veículos em 2018 do que produziu em 2017 (sem a necessidade de novos investimentos).

Esta não é, entretanto, a realidade da infraestrutura do país: o que era ruim ficou pior, e não há – nem nunca houve – capacidade ociosa.

Como investimos no ano passado menos do que a depreciação, e como estima-se que o PIB tenha crescido algo como 1% em 2017, passamos de um estoque de 36,3% do PIB para 35,9%.

Parece pouca diferença, mas se considerarmos a projeção de crescimento da economia, serão necessários R$ 323 bilhões em investimentos nos próximos dois anos somente para chegarmos, no final de 2019, ao nível que tínhamos no final de 2016 – que, diga-se de passagem, corresponde a apenas metade do estoque médio de países desenvolvidos.

Se fizermos nosso dever de casa, ao longo das próximas duas décadas, logística – compreendendo rodovias, ferrovias, portos e aeroportos – deve representar 37% do total investido; energia elétrica corresponderá por cerca de 27%; Telecom, 16%; Saneamento, 11%; e mobilidade urbana, 9%. Teremos, se tudo der certo, um estoque de ativos da ordem de 77% do PIB em 2038.

É importante considerar que uma infraestrutura inteligente garante que toda a indústria nacional se beneficie de custos logísticos, energéticos e de comunicação menores.

Além disso, externalidades positivas à população – da saúde causada pelo saneamento básico à melhora na qualidade de vida gerada pelo desenvolvimento da mobilidade urbana – garantirão um efeito de atração de novos investimentos para o país.

Investir em infraestrutura gera um círculo tão virtuoso que é difícil compreender por que ficamos tão para trás nas últimas décadas.

Talvez seja pelo desejo de que todo este investimento seja realizado exclusivamente com recurso público, o que obviamente não será o caso, dado o desarranjo fiscal que observamos atualmente.

Assim, entre 2018 e 2019, precisamos nos debruçar sobre pranchetas para viabilizar, com recursos privados, projetos que, já a partir de 2020, somem 291 bilhões (ou 4,3% do PIB daquele ano), crescendo gradualmente até atingir 625 bilhões (6,5% do PIB projetado) em 2038.

É urgente realizar um planejamento integrado de longo prazo para a infraestrutura brasileira. Afinal, quem não sabe onde quer chegar jamais chegará a lugar algum.

É preciso compreender que, na lógica dos recursos escassos e desejos ilimitados, é preciso priorizar – e só se prioriza quando se conhece as opções disponíveis.

Em paralelo, uma série de micro-reformas precisam ser feitas para gerar confiança do investidor – lembrando que confiança significa menor risco, que significa menor preço cobrado ao usuário. É o ganha-ganha que o Brasil precisa para viabilizar a infraestrutura que o país merece.

Diogo Mac Cord de Faria é coordenador do projeto infra2038, uma iniciativa que busca melhorar de forma significativa a infraestrutura brasileira nos próximos 20 anos

 

FONTE: REVISTA EXAME