Você conhece bem o conceito de Ad Valorem?
As empresas de transporte rodoviário de cargas precisam utilizar alguns componentes para fazer o preço final do frete a ser cobrado do embarcador.
É aí que entra o Ad Valorem, também conhecido como Frete Valor, ele representa uma cobertura pelos riscos que o transportador pode correr para transportar uma carga.
O cálculo do Ad Valorem precisa englobar todas as variáveis que envolvem esse risco, afinal muitas vezes somente o custo de uma carga, se avariada, perdida ou roubada, pode quebrar uma empresa inteira.
Pense que, se você é um transportador, precisa estar seguro para exercer essa função, para que o lucro alcançado no final do mês seja realmente lucro, e não disponibilizado para custos não previstos.
E para que você consiga cobrar a taxa correta do Ad Valorem é preciso que você mergulhe fundo em todos os riscos relativos à atividade de transporte de uma carga.
Neste artigo, que faz parte da série sobre cálculo de fretes, vamos detalhar esse assunto de uma forma que não fique dúvidas para você.
Continue lendo este artigo, que vai te permitir, além de entender exatamente o conceito de Ad Valorem:
- Conhecer em detalhes a composição deste custo
- Listar os principais fatores de risco que envolvem o transporte de cargas
- Conhecer as principais taxas utilizadas no mercado
- Ver um exemplo prático de como usar o Ad Valorem
- Saber se deve ou não pagar imposto sobre este custo
- Questionar a imposição das cartas DDR
- Saber justificar ao seu cliente caso você decida por aumentar a taxa cobrada atualmente
Gostou do que vem por aí? Então compartilhe esse post com seus amigos para que todos saibam a forma correta de calcular o Ad Valorem, e melhorar a condição da classe de transportadores.
COMPOSIÇÃO DO AD VALOREM
O transportador rodoviário de cargas tem total responsabilidade pela integridade da mercadoria que está transportando, ou seja, problemas de qualquer natureza, que podem ocorrer no trajeto recairão sobre o emissor do conhecimento de transporte.
É por este motivo que a empresa de transportes precisa se garantir dessa responsabilidade, e com isso fatalmente terá alguns custos.
Dentre estes custos eu vou listar os mais conhecidos e também alguns que muitas transportadoras têm, mas não consideravam como sendo parte do Ad Valorem.
Então vamos lá, veja agora a relação completa:
RCTR-C > Responsabilidade Civil sobre o Transporte Rodoviário de Cargas: conhecido como seguro de acidentes, este seguro é obrigatório ao transportador;
RCF-DC > Responsabilidade Civil Facultativa do Transportador Rodoviário por Desaparecimento de Carga: conhecido como seguro de roubos, este seguro é facultativo, ou seja, o transportador pode ou não contratá-lo;
Indenizações de mercadorias: nem tudo é coberto pelos seguros, e o transportador poderá encarar uma série de situações em que o prejuízo sairá do seu bolso, dentre elas podemos destacar:
- Avarias de manuseio;
- Violações nas mercadorias;
- Extravios de produtos dentro da carga;
- Greves;
- Motim;
- Atos de vandalismo;
- Furtos simples;
- Roubos no depósito;
- Água de chuva molhando a mercadoria.
GRIS: No caso da contratação do seguro de roubo (RCF-DC) a seguradora irá pedir o Gerenciamento de Risco, como forma de evitar ao máximo os riscos de roubo da carga, e o custo deste serviço também recairá sobre o transportador.
Não se pode esquecer ainda, que muitos transportadores precisam usar recursos para aumentar a proteção da carga, através de:
- Lonas;
- Trava-cargas;
- Calços;
- Cantoneiras;
- Protetores.
Além disso, dependendo do tamanho da transportadora, existe ainda mão de obra dedicada para a segurança da carga, e por isso precisa também estar incluída no Ad Valorem.
Ou seja, para que você entenda do que é composto o Ad Valorem, precisa pensar que absolutamente tudo o que for feito pela segurança da carga precisa estar embutido neste custo.
PRINCIPAIS FATORES DE RISCO À CARGA
Entender exatamente quais são os riscos pelo transporte de uma carga pode te ajudar a cobrar a taxa justa do Ad Valorem.
Se por um lado não é justo que o transportador consiga lucro com a taxa do Ad Valorem, por outro ele não pode perder dinheiro com despesas em segurança.
O cálculo correto sempre deverá se basear no risco, e para se conseguir isto é preciso entender que riscos são esses, dependendo de uma série de fatores.
Vamos ver agora alguns destes fatores, que certamente influenciam no risco:
Peso: quanto mais leve a carga, maior a facilidade em ser roubada. Se a sua carga tem seguro de roubo, a seguradora sabe disso, e vai te cobrar o preço adequado ao risco.
Tipo de carroceria: um contêiner oferece menor risco à carga, se comparado a uma grade baixa por exemplo, isto tanto do ponto de vista de acidente quanto de roubos.
Tipo de estrada: é importante avaliar o trajeto por onde a carga vai passar. O tipo de estrada, assim como suas condições, podem influenciar no risco. Além disso é importante avaliar a região por causa do roubo de cargas.
Quantidade de manuseios: se a carga precisar de mais de um manuseio, o risco de avaria aumenta.
Agora vamos conhecer as taxas de Ad Valorem normalmente praticadas.
QUAL TAXA DE AD VALOREM DEVE SER COBRADA
É muito difícil estabelecer o percentual exato, em relação ao valor da mercadoria, que deve ser cobrado de Ad Valorem, com a intenção de cobrir todos os gastos pela responsabilidade pelo transporte.
A parte fácil é estabelecer o valor da mercadoria, bastando pegar a nota fiscal de produtos, por outro lado fatores de risco como os citados acima podem diminuir ou aumentar esta taxa.
Além disso, o tempo e a distância são outros dois fatores que vão determinar um percentual mais próximo da realidade.
Quanto maior a distância entre a origem e o destino da carga, maior é o tempo na estrada, e maior é o risco de algo acontecer.
Foi pensando nisso que a NTC – Associação Nacional de Transporte de Carga, estabeleceu as alíquotas abaixo, como uma forma de facilitar este cálculo.
Distância (km) | Alíquota (%) |
---|---|
1 a 250 km | 0,30 % |
251 a 500 km | 0,40 % |
501 a 1.000 km | 0,60 % |
1.001 a 1.500 km | 0,70 % |
1.501 a 2.000 km | 0,80 % |
2.001 a 2.600 km | 0,90 % |
2.601 a 3.000 km | 1,00 % |
3.001 a 3.400 km | 1,10 % |
acima de 3.400 km | 1,20 % |
Coleta e entrega | 0,15 % |
Não esquecendo que a distância é relativa à carga, e não ao caminhão, ou seja, você não pode considerar ida e volta do trajeto.
Porém, no retorno, pode considerar uma nova taxa de Ad Valorem baseado na nova carga que estará trazendo.
Outro fator importante é que estas taxas são sugeridas, mas não significa que você precisa segui-las à risca.
Só você conhece o seu negócio, e se entender que está tendo custos maiores em função de peculiaridades da carga, é preciso considera-los.
Volto a frisar aqui que o Ad Valorem deve cobrir integralmente os riscos pela responsabilidade de se levar uma carga do ponto A para o ponto B.
E por isso é preciso dar o devido valor à esta taxa.
AD VALOREM: EXEMPLO PRÁTICO
Está vendo a imagem acima?
Agora imagine quanto pode valer uma carga, dependendo do tipo e raridade do remédio?
A nota fiscal de produtos, de uma carga como essa, pode facilmente valer R$ 1 milhão, e em casos como esses o risco do transportador é proporcional ao valor da carga.
Por outro lado, uma carga de lixo hospitalar talvez irá valer 1% ou menos de R$ 1 milhão, mesmo tendo o mesmo peso em kg.
É por este motivo que o Ad Valorem precisa ser cobrado com base no valor total da nota fiscal de produtos.
Supondo que uma transportadora pegou estes dois fretes, e que a distância para transporte de cada uma é igual, de 600 km.
Com base na tabela de alíquotas, temos as seguintes tarifas de Ad Valorem a serem cobrados:
Descrição | Ampolas de Remédio | Lixo Hospitalar |
---|---|---|
Valor da mercadoria – em nota fiscal | R$ 1 milhão | R$ 5 mil |
Peso da carga | 800 kg | 800 kg |
Distância para entrega | 600 km | 600 km |
Tarifa Ad Valorem (%) | 0,60 % | 0,60 % |
Tarifa Ad Valorem (R$) | R$ 6.000,00 | R$ 30,00 |
Ou seja, é justo cobrar apenas R$ 30,00 de Ad Valorem pela carga de lixo hospitalar, porque o risco é pequeno.
Ao mesmo tempo, também é justo cobrar R$ 6.000,00 de Ad Valorem pela carga de remédio, pois certamente os custos com seguros serão proporcionalmente altos.
A QUESTÃO DO IMPOSTO NO AD VALOREM
Um fator pouco percebido entre os transportadores é que o Ad Valorem (ou Frete-Valor) é tributado pelo governo, porque ele é um componente do valor do serviço de frete.
Ou seja, na hora de emitir o Conhecimento de Transporte Eletrônico a transportadora irá emitir um valor único, através do qual está embutido o Ad Valorem.
É importante entender que, se você fez seus cálculos para entender quanto cobrará do embarcador por assumir a responsabilidade pela carga, não esqueça que o valor final não é o que aparece na calculadora.
Você precisará descontar a fatia que o governo te leva, para chegar o mais próximo possível da realidade.
A IMPOSIÇÃO DAS CARTAS DDR
Carta DDR é um documento emitido pela seguradora do embarcador indicando que ela não irá entrar com uma ação contra o transportador em caso de sinistro, desde que ele tenha seguido as orientações de gerenciamento de risco.
Os embarcadores, visando reduzir ao máximo os seus custos, impõem aos transportadores que aceitem a carta DDR, porém deixem de cobrar o Ad Valorem.
Ou seja, quando um transportador aceita tal fato, ele deixa de:
- Fazer o seguro RCTR-C, o que não poderia, por ser obrigatório;
- Fazer o seguro RCF-DC, que é opcional;
- Cobrar o Ad Valorem do seu cliente, que na prática não cobre somente estes seguros, conforme já descrito aqui no artigo.
O problema desta prática, na minha visão, é que ela visa o embarcador, e não o transportador, e isso está muito errado!
Enquanto o DDR estiver focado no embarcador, este continuará a usar essa ferramenta para apertar ao máximo o transportador do ponto de vista financeiro, contribuindo ainda mais para um colapso do mercado.
A crise está aí para todos, mas o transportador tem força na economia, e não deveria permitir tal fato.
Mesmo que alguns transportadores vejam nesta prática uma forma de atender seu cliente, tem que entender que isto está prejudicando sua operação.
Deixar de cobrar o Ad Valorem faz com que alguns custos não possam ser cobertos, e tudo isso contribui para uma margem menor de lucro, ou mesmo o aumento do prejuízo.
COMO JUSTIFICAR UMA TAXA MAIOR DE AD VALOREM
Nós vimos até agora quais taxas de Ad Valorem são recomendadas que você utilize, porém você pode ter dificuldades em aplicar estas taxas.
Com o mercado em baixa, a concorrência está acirrada, e você pode as vezes perder um cliente por causa de uma taxa, que é justa na verdade.
A melhor maneira de justificar estas taxas é relacionando os reais gastos que a transportadora terá para garantir a responsabilidade por determinada carga.
Considere absolutamente tudo o que for possível, e coloque tudo isso numa planilha.
Desta forma você estará sendo justo não somente com o seu cliente, mas contigo mesmo, mostrando de forma clara e honesta quais são os reais gastos dedicados na operação.
Outra dica é tentar trabalhar pelo menor custo possível com os seguros de transporte, desde que isto não prejudique, obviamente, os prêmios de seguro.
Não é porque você precisa economizar que vai pôr em risco a carga, por outro lado também não dá para aceitar qualquer custo só porque determinada seguradora exige.
Eu sugiro que você leia este artigo completo que escrevi sobre o tema:
10 DICAS INFALÍVEIS PARA ECONOMIZAR NO SEGURO DE TRANSPORTES
CONCLUSÃO SOBRE AD VALOREM
O cálculo de fretes tem uma série de características, onde cada componente tem uma função específica, para compor o custo final.
O Ad Valorem é, sem dúvida nenhuma, um componente muito importante por cobrir os riscos da atividade.
Agora que você leu todo o artigo, é fundamental que você se pergunte se está aplicando este conceito corretamente no seu negócio.
Então vamos recapitular aqui tudo o que vimos juntos:
Composição do custo:
- RCTR-C;
- RCF-DC;
- Indenização de mercadorias;
- GRIS;
- Proteção da carga;
- Mão de obra dedicada.
Fatores de risco:
- Peso;
- Tipo de carroceria;
- Tipo de estrada;
- Quantidade de manuseios.
Taxas normalmente cobradas (sobre a NF):
- Distância (km): entre 0,30% e 1,20%
- Coleta e entrega: 0,15%
Forte abraço e até o próximo artigo!
Ed Trevisan
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